segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

CTO pelos caminhos do Livro Grande de Alcoólicos Anônimos.

             
A história inicial de Alcoólicos Anônimos no Mundo, aa.org.br

Através deste texto tentarei compartilhar minhas próprias reflexões sobre as lições legadas através do nosso Livro Grande, carinhosamente conhecido no Brasil por Livro Azul, o qual costumo chamar de “Um Soco no Estômago”.

                Intencionado pela extração máxima das experiências e informações ali contidas, sigo em luta pelo estudo sério, por motivos óbvios, desta poderosa fonte de riquezas, donde todos nós, A.As., deverão um dia saciar nossa sede por recuperação e pela manutenção de toda uma sociedade mundial de alcoólicos recuperados, e por meio deste estado feliz e de utilidade, zelar pela proteção de toda uma unidade que tem como única razão de existir a transmissão da mensagem ao alcoólico que ainda sofre, o que seguramente compreende ao Comitê Trabalhando com Outros – CTO, o serviço de relações públicas de Alcoólicos Anônimos, a resposta mais adequada e responsável para a compreensão e aproximação com o mundo.
O sucesso ascendente verificado desde a publicação da primeira edição deste Livro Grande, Alcoólicos Anônimos, em 1939 – do qual nossa Irmandade extraiu seu nome –, consolidou o objetivo de difundir fecundamente seus princípios de recuperação, nossa solução contra a doença do alcoolismo.
                Bem, começarei a desenvolver o nosso estudo a partir do entendimento rápido e conceitual das duas únicas forças humanas em A.A., como, quando, e onde se equilibram: o Poder Tradicional (membros comuns, representantes de serviços gerais até seus delegados); e o Poder Legal (custódios pela Junta de Serviços Gerais, diretores e funcionários, Comitês, Publicações etc).
                Sabemos que a essência do Poder Tradicional é constituída pelos grupos de A.As. espalhados por todo o mundo. Atualmente, supõe-se que em cerca de 200 países as Doze Tradições serão mantidas e protegidas pelos membros conscienciosos de um grupo quando esclarecido, sempre garantidos pela forja da quarta tradição que lhes assegura o direito de errar e retroceder humildemente na correção dos seus próprios erros. Outra premissa prevista em nossas tradições é o direito de cada grupo se manifestar como individualidade de um todo, portanto, sendo assim, reconhecido como uma entidade espiritual que possui seus próprios recursos morais possíveis e cabíveis para a transmissão da “sua” mensagem. Ou seja, cada grupo é um conjunto vivo, orgânico, dinâmico, próprio em particularidades, e trabalha na atração do enfermiço de sua comunidade. Nunca falaremos em uniformidade, mas sempre em unidade de diferenças e semelhanças. Todo grupo deverá manter-se sempre minimamente organizado (aqui ilustrarei grosseiramente: cuidados com a cafeteira; manutenção de uma chave para abertura do portão nos dias e horários de reuniões; designação de um tesoureiro para o pagamento do aluguel e o repasse evitando o acumulo de dinheiro e etc), de forma que impere um clima de boa vontade e responsabilidade que possibilite um ambiente fraterno e favorável à reabilitação de qualquer alcoólico. Esse é o A.A. de que tanto gostamos!
                Já o Poder Legal, ao contrário, necessita de estrutura amplamente organizada. Defensor e guardião dos nossos princípios perante a sociedade e perante nós mesmos, o Poder Legal não admite suposições. É constituído por membros que se destacaram pela necessária recuperação em seus grupos e uma provável vocação, destituídos (aqui devo abrir um sério parêntese) de personalismo, constrangidos pelo sentimento do dever e da responsabilidade, e, por último, genuína gratidão, resultado motivador de suas intenções anônimas e cooperativas, efeito natural e modificador do caráter, dada a aplicação do método dos doze passos. São reconhecidos por toda a estrutura como seus legítimos representantes, sendo a eles delegados direitos na decisão e nos deveres de suas representatividades. Esses membros são eleitos pela consciência coletiva de um grupo, a princípio no que se refere ao CTO: formam seus comitês e comissões na preservação ou proteção dos seus grupos, o Poder Tradicional, através do qual será mantida a tradição oral e moral na transmissão da mensagem de recuperação neste lugar. Seus componentes serão sacrificados nos seus anonimatos, exceto na imprensa, rádios e filmes; administrarão, discutirão e correrão riscos com o dinheiro, propriedade e prestígio; empreenderão recursos na cooperação ou no apoio às demais situações ou instituições, o que demandará possíveis controvérsias. Enfim, essas são, em parte, obrigações morais, ou talvez vantagens que o Tradicional exige de seus representantes, sempre na tentativa de autopreservar-se, convergindo recursos materiais e humanos para sua manutenção e equilíbrio, e objetivando a coerência dos princípios na relação com o seu público alvo, matéria-prima de toda a nossa Irmandade, que tem as tradições como seu maior patrimônio, o que se confirma em toda sua força na Conferência de Serviços Gerais a cada ano.
                Agora vamos buscar os registros do livro e das diversas obras de nossa Irmandade para sustentação daquilo que acredito que tenha me motivado a escrever estas linhas, que têm como finalidade demostrar a eficiência desta obra e a necessidade de discutir o trabalho das comissões que constituem o CTO como um todo.
                Vamos iniciar a análise por este apelo de Bill W., apresentado logo no primeiro passo do livro – Os Doze Passos e As Doze Tradições, em que ele percebe a necessidade de elevarmos os nossos “fundos do poço”, querendo dizer para que não fossemos tão fundo, iniciativa para alcançar um número significativo de jovens já alcoólicos e potenciais à recuperação, talvez evitando, desta forma, dez ou quinze anos de puro inferno em suas vidas, reconhecendo que a diferença para casos desesperados estava no aspecto progressivo da doença, uma ação lenta e devastadora, determinante em todos os casos e sem nenhuma exceção. Há que se notar aqui um sinal evidente e necessário na atualização e contextualização num curto espaço de tempo para nossas necessidades de progresso, já que nos foi dada como referência para tal necessidade a afirmação constante na primeira edição do livro Alcoólicos Anônimos, em 1939: “... foi publicada quando éramos poucos membros, tratava somente de casos desesperados.”¹
                O segundo ponto, com o qual deveríamos ter bastante cuidado quanto ao caráter das intenções e o posicionamento estabelecido das comissões. Vejamos: seus trabalhos deveriam atender indiretamente ao alcance do alcoólico que ainda sofre, mesmo que estejamos levando a mensagem a pacientes de uma clínica psiquiátrica, e expor os pormenores de uma carreira alcoólica estritamente pessoal, ou nos apresentarmos como verdadeiros troféus de superioridade! É muito melindroso, descortês, constrangedor e pouco eficaz, mesmo porque nunca haverá tempo suficiente para tratarmos com profundidade qualquer assunto. Isso seria atribuição dos grupos. As comissões só teriam oportunidade de lançar as iscas. Portanto, se nos posicionarmos como humildes reprodutores das afirmativas contidas em nossos livros e se nos atermos às generalidades combinadas ao que nós vivenciamos, poderemos obter um ótimo resultado, mesmo não ocorrendo manifestação de desejo algum em prazo imediato. Convide os espectadores a se tornarem um difusor potencial de nossa mensagem a um de seus amigos, torne-os cooperadores, motive-os, esclareça-os, ofereça-lhes os recursos de abordagem. Posso garantir que a identificação só ocorrerá por meio das informações verdadeiras de nossos livros, e não as que eu acredito que sejam verdadeiras, só por que acho que sejam. Precisamos buscá-las!
                Trarei novos trechos dos textos para verificar essa intenção indireta e que confirma que o alcoólico ativo não estará motivado para se decidir na presença de estranhos. É que a carapuça das informações muitas das vezes apenas o aperta, mas não chega a vestir a sua cabeça imediatamente. O capítulo 7 – Trabalhando com os Outros – apresenta uma enxurrada de observações para o “início” de qualquer conversa com um provável membro. Vamos a elas: procure médicos, sacerdotes, padres, ou juízes; não comece como um pregador ou reformista, moralista ou professor; não perca tempo tentado convencê-lo; procure as pessoas mais interessadas, isto é, seus familiares; deixe que a família ou um amigo pergunte se ele quer parar de beber de verdade; nunca tente fazer isso à força, com ansiedades ou tropeços; encontre-se com seu homem a sós, se possível; primeiro converse sobre assuntos gerais, etc. Todas as afirmativas se encontram no início desse capítulo e denotam o quão difícil e delicado é o trabalho de aproximação, exigindo de todos os envolvidos bastante paciência por se tratar de uma pessoa gravemente adoecida. Além disso, há a manifestação de todos os sintomas já conhecidos: negação, controle, justificação, desordem emocional, etc. Todos os seus instintos naturais gritam contra a ideia da impotência pessoal. Já passamos por isso, meus amigos! Ou não?
                Agora, buscaremos para o debate deste artigo os elementos para compor um bom discurso de informações, algo que todos nós poderemos experimentar, pois somente assumiremos o papel de humildes agentes reprodutores das informações pertinentes ao serviço que constam em nosso Livro Grande, se as aliarmos às nossas próprias experiências na tentativa de um maior êxito quanto à captação de futuros prováveis membros.
No início do Livro em questão, reconhecemos a necessidade de nos apresentarmos como alcoólicos recuperados. Na versão em português, em sua folha de rosto vem a inscrição: “A história de como homens e mulheres se recuperaram do Alcoolismo”. No capítulo 2 – Há uma Solução –, logo em seu primeiro parágrafo, surge a afirmação: “Praticamente todos estão recuperados. Resolveram seu problema com a bebida”. Claro que o adjetivo “recuperado” surge de uma escolha individual. Acredito que a recuperação ocorra quando é cessada a obsessão alcoólica e seus vestígios, e, por conseguinte, a compulsão orgânica; fatores esses que, combinados, determinam a doença do alcoolismo; é bem mais além do que normalmente se pensa, a qualidade ou quantidade que se bebe não determina a doença. De maneira alguma a recuperação está relacionada à cura, até porque não existe vacina. Caso houvesse, poderíamos, aí sim, voltar a apreciar uma inofensiva cervejinha sem risco de perda de controle, o que para muitos de nós seria a oitava maravilha! No meu caso, graças a Deus, encontrei uma maneira de viver que realmente me agrada.
                Já temos uma base de informações decisivas que atingiria desde o solicitante do RH de uma grande empresa que nos procura para seus funcionários do canteiro de obras até seu presidente. Falar da doença e de seus sintomas é uma recomendação antiga de um dos nossos maiores colaboradores, Dr. Silkworth. Sua chancela inestimável ao nosso Livro, que considera toda a classe cientifica da época e atual, é verdadeiramente emocionante. Sua sugestão deu um basta nas longas investidas ineficazes de Bill W., que objetivava convencer os inúmeros bêbados através de seu famoso despertar espiritual ocorrido no leito do hospital. Fica aqui outra dica para deixarmos os conceitos teológicos fora das investidas das comissões: falar de Deus ou de nossos conceitos de Poder Superior é altamente arriscado. Será melhor nos abstermos de abordar esse aspecto. Esse assunto é atribuição dos grupos e do método de recuperação, os 12 passos. Não há meios favoráveis de nos concentramos aí, pois sempre nos depararemos com os personagens do capítulo 4 deste livro – Nós, os Agnósticos –, bem como com as descrições do 2º passo do método no livro Os Doze Passos e As Doze Tradições. Preferencialmente, o melhor caminho é atingi-los pelo martelo da razão contida nas informações baseadas pela ciência.
                Esclarecer sobre os fatos concretos relacionados à progressão e incurabilidade, bem como descrever com segurança como se dá a combinação explosiva da obsessão com a compulsão alcoólica, auxiliam no enfrentamento do grande dilema de todo e qualquer alcoólico: o desejo de provar que pode beber como os outros, e que um dia de alguma maneira irá alcançar o controle. São essas informações e experiências, em parte, que representam a grande chance de destruir essa vã ilusão. Se oferecermos tais esclarecimentos com inteligência e habilidade, talvez possamos acender uma chama de esperança para inúmeras famílias que lutam pela recuperação dos seus entes mais amados. Restituir valores ao seio familiar do alcoólico – pois a doença afeta a todos os envolvidos de uma família ou comunidade – é o objetivo do programa de recuperação, só que oferecendo liberdade e força a todos os que desejarem. Da felicidade verdadeira tudo conhecerá.
Meus amigos, é dessa maneira que tento retribuir tudo o que tenho recebido de vocês nestas poucas 24 horas. Graças a vocês e ao método de recuperação e ao programa de A.A., venho descobrindo a escrita como forma de expressão e contribuição à Irmandade que tanto amo. Só assim poderei devolver um pouco do tanto que recebi.


                Não precisamos ser médicos ou profissionais de gabarito para relatar essas informações, somos leigos e isso nos basta. Precisamos apenas desistir de combater o novo. Tudo progride para melhor nesse mundo. Os nossos princípios estão assegurados por Deus. Temos apenas que agir e não mais repetir o velho jargão: “Alcoólicos Anônimos não são para quem precisa, mas para quem quer.” Mas como saberei o que quero, ou o que preciso, se as informações não chegam a mim? Fica aqui uma última responsabilidade e pergunta também. 

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Sejam todos bem-vindos com suas colaborações de qualquer natureza, excetuando tudo que infrinja as regras do bem proceder. Lembramos sempre que nenhum dos seus membros fala "em nome de" A.A., mas, no máximo, "de" A.A. As opiniões dos alcoólicos recuperados baseiam-se sempre na propriedade de suas experiências pessoais.