domingo, 25 de fevereiro de 2018

Recuperado ou em Recuperação, o que diz o A.A.?

Recuperação em Alcoólicos Anônimos


Muitos membros, não apenas no Brasil, mas também em muitos outros lugares onde A.A. encontra-se presente, acrescentam inapropriadamente nas suas apresentações pessoais o termo: “ Fulano de tal qual… em recuperação”. Este “apêndice”, que nunca existiu, foi introduzido nos anos 70 do século passado, quando, após a promulgação da “Lei Hughes” ─ ver aqui outro post ─, os grupos de A.A. passaram a ser inundados por clientes das inúmeras clínicas de recuperação criadas para se aproveitar dos incentivos oferecidos por essa lei, introduzindo um tipo de linguagem na Irmandade que até hoje ainda não foi devidamente depurado, muitas vezes, à omissão, conivência ou até conveniência de que poderia fazê-lo. Nós! 

Esta expressão, em recuperação, sugere a fase existente quando da chegada do alcoólico ou alcoólica à Irmandade, mas que deve ser superada e passar à condição de recuperado(s) decorrido o tempo necessário para a libertação da obsessão e da compulsão ao se colocarem em prática os princípios sugeridos pela Irmandade, e esta é sua finalidade. 

Os membros de A.A. em sua maioria consideram que a doença do alcoolismo, uma vez instalada, não tem cura; mas os mecanismos que conduzem à sua continuidade podem ser detidos e a sanidade recuperada.


O que diz o Livro Alcoólicos Anônimos


Ao longo do Big Book  ─ Livro Alcoólicos Anônimos, Livro Azul no Brasil ─, a palavra recuperado(s) consta, pelo menos, 17 vezes, começando já pelo Prefácio à primeira edição em 1939 e em todas outras edições ─ “Nós, de Alcoólicos Anônimos, somos mais de cem homens e mulheres que nos recuperamos de uma aparentemente irremediável condição mental e física. Demonstrar a outros alcoólicos exatamente como nos recuperamos é o principal objetivo deste livro…” ─ e cujo texto “expõe os Passos e procedimentos sugeridos pela Irmandade que os membros iniciais acreditavam ser responsáveis por sua capacidade de superar a compulsão de beber”. 

Até os dias de hoje não houve qualquer motivo, evento ou descoberta, que sugerisse que o sentido desse texto devesse ser mudado. À época do lançamento do Livro, 10 de abril de 1939, o recuperado mais antigo, Bill W., tinha-se libertado da obsessão pela bebida de forma repentina durante sua última internação, havia quatro anos e quatro meses; já, o Dr. Bob precisou de mais de dois anos em abstinência para que essa libertação ocorresse e assim acontece até os dias de hoje; essa libertação, ou acordar espiritual, não tem um tempo cientificamente definido para acontecer e depende do esforço individual, ou, nas palavras do Dr. Bob em sua despedida, “Todos fizemos as mesmas coisas. Todos conseguimos os mesmos resultados em proporção direta ao nosso zelo, entusiasmo e capacidade de aderir”. Mesmo assim, poderá nunca acontecer. 

Aqui vai uma opinião pessoal: O mais simples, coerente e prudente, talvez, seja eliminar essas expressões, uma e outra, das nossas apresentações pessoais dentro da reuniões de A.A., a não ser que nesta mesma sala de reunião esteja ali a primeira visita de um provável membro ou interessado, ou nas inúmeras tarefas de CTO. Nesses casos, o termo RECUPERADO denota com precisão a razão de Alcoólicos Anônimos existir, não causando qualquer dúvida para quem nos assisti sem qualquer familiaridade sobre assunto alcoolismo e recuperação. 

Esse mesmo assunto é tratado de forma recorrente em nosso blog, devida sua importância, no artigo: "CTO, pelos caminhos do Livro Grande de Alcoólicos Anônimos"; E num outro artigo que fornece a sugestão de um roteiro para as tarefas de CTO intitulado "CTO de Alcoólicos Anônimos, lancemos as iscas somente!"

Argumentos importantes que precisam circular em nosso meio com toda força... Precisamos ser o mais claro possível com o alcoólico que ainda sofre e sensíveis ao ponto de eliminarmos as incoerências com a fonte que, a meu ver, a melhor das experiências. E aqui não se trata de preciosismo ou, simplesmente, querer polemizar, mas porque sabemos das responsabilidades e dificuldades em se atingir o indivíduo onde todos os seus instintos naturais gritam contra a ideia da impotência pessoal.    

*parte deste texto foi extraído de uma fonte não oficial.

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Sejam todos bem-vindos com suas colaborações de qualquer natureza, excetuando tudo que infrinja as regras do bem proceder. Lembramos sempre que nenhum dos seus membros fala "em nome de" A.A., mas, no máximo, "de" A.A. As opiniões dos alcoólicos recuperados baseiam-se sempre na propriedade de suas experiências pessoais.