A expressão usada por Bill, no sexto passo: … “mas nunca nos deixará brancos como a neve…”, é sempre retirada do seu contexto, fazendo com que muitos acreditem que nunca ficaremos brancos como a neve. Mas será isso mesmo?
Para entendermos que no sexto passo há um precedente aberto para acreditarmos que poderemos sim nos tornar brancos como a neve é preciso analisarmos a situação num contexto muito mais amplo, e isso vai nos arremeter ao que nos é sugerido desde o quarto passo, “fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos”.
O ensaio começa dizendo que “A criação nos deu os instintos por alguma razão, sem eles não seríamos seres humanos completos”. Em seguida, é relatado a função de tais instintos, que seria o combustível para buscarmos abrigo, prestígio social, por reprodução, segurança financeira…, coisas PERFEITAMENTE naturais e necessárias, dadas a nós por Deus. Sendo assim, tais instintos, usados para esse fim, se tornam o padrão ideal de Deus para nós, seres humanos.
Contudo, os instintos são os depositários de toda sorte de desejos nos seres humanos. Tais desejos, em algum momento excedem suas funções originais e passam a escravizar a nós seres humanos. Passamos a viver, em dado momento, apenas segundo os excessos, perdendo de vista o padrão ideal de Deus para nós.
Ao refletirmos sobre os excessos, nos conscientizamos de que desejamos mais do que o necessário para nossa sobrevivência. Então compartilhamos com outra pessoa e passamos a desejar eliminar esses excessos é quando vem o sexto passo, “prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse nossos defeitos de caráter”. Os defeitos de caráter são os excessos do padrão normal dos instintos que Deus nos deu, que serviriam apenas para nos motivar a viver.
Mas ainda no sexto passo é dito “visto que nascemos com uma abundância de desejos naturais é normal que eles se excedam e passem a nos dominar. Mais adiante, o texto diz que não há notícias em canto algum de que Deus tenha eliminado totalmente os instintos de um ser humano. Se Ele fizesse, seria o mesmo que eliminar a motivação para viver de um ser humano, logo, os instintos são uma parte intrínseca de nós.
Então vem a famosa expressão: “Se pedirmos, Deus certamente perdoará nossos defeitos de caráter, MAS NUNCA NOS TORNARÁ BRANCOS COMO A NEVE, mas o texto não se encerra aí, ele continua ... sem a nossa ajuda”... Fica claro que tudo depende de nós.
Ora, se você tem um presente ele é seu, mas se resolve dar a alguém, você dá a quem você quiser e uma vez dado, quem recebe faz o que quiser com aquele presente, pois agora é seu. Mas se posteriormente depois de ter usado o presente inadequadamente quiser recorrer àquele que lhe deu para fazer um conserto, aquele que deu pode tranquilamente providenciar o conserto do presente. Os instintos foram dados a nós por Deus e depois que os recebemos, fizemos uso deles como melhor nos aprouve.
A decisão de trazer os instintos à sua função natural, que é apenas o de dar motivação para viver, conforme Deus pensou para nós, é nossa. Deus está pronto para nos tornar brancos como a neve, mas os instintos já foram dados a nós e agora a prerrogativa de pedir para corrigir é nossa. Assim como quando entramos no quanto de nosso filho e enxergamos ali uma tremenda bagunça e não ousamos arrumar conforme o padrão que pensamos do quarto para ele, pois isso pode chatea-lo, também arrumamos com o maior zelo possível, dentro do padrão que pensamos pra ele, se ele nos pedir.
Assim também funciona em relação aos nosso instintos, se pedirmos Deus certamente trará nossos desejos ao padrão que Ele pensou para nós seres humanos. A medida de Deus para nós, seres humanos, é uma medida proporcional ao que precisamos para viver neste mundo.
O nosso erro de interpretacão neste texto é que não o lemos dentro de um padrão humano, mas sim, fazendo uma relação com o padrão de perfeição de Deus para Ele, Deus. Deus é um ser espiritual no sentido exato da palavra, é superior ao ser humano e Sua perfeição é uma coisa, totalmente diferente da perfeição que ele deseja para nós aqui na terra.
Ficar branco como a neve, para nós, humanos, é tão somente usar os nossos desejos instintivos apenas como motivação para dar sentido à vida, tal sentido é expresso lá no início do quarto passo: motivação para construir abrigo, ter um pouco de prestígio na comunidade, construir uma família e se manter neste padrão.
Caso algum desejo insista em exceder sua função pensada por Deus para nós, podemos recorrer ao Criador, que Ele certamente perdoará nossas negligências.
Carlos S
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