A Nona Tradição afirma: "A.A. nunca deve ser organizada; mas podemos criar comissões ou conselhos de serviço diretamente responsáveis perante aqueles a quem servem." Esse princípio deixa claro que, embora existam estruturas organizadas (como comitês, juntas ou conselhos), elas não são a essência de A.A. — são apenas ferramentas de serviço criadas para apoiar os grupos, que são o verdadeiro coração da irmandade.
A Essência: Os Grupos
Os grupos são a base de A.A. Eles são autônomos, independentes e têm um único propósito primordial: levar a mensagem ao alcoólico que ainda sofre (Quinta Tradição). É nos grupos que a magia de A.A. acontece — onde os membros se reúnem, compartilham suas experiências, forças e esperanças, e ajudam uns aos outros a manter a sobriedade. Sem os grupos, A.A. não existiria.
A Aparência: O Serviço Organizado
O Serviço, por sua vez, é uma estrutura organizada que surge das necessidades dos grupos. Comitês, juntas e conselhos são criados para facilitar a comunicação, coordenar eventos, distribuir literatura e garantir que os grupos tenham o apoio necessário para cumprir sua missão. No entanto, essas estruturas são apenas representações de A.A., não a sua essência. Elas existem para servir os grupos, não para governá-los ou substituí-los.
A Dedução Óbvia
Se Alcoólicos Anônimos jamais deve se organizar, mas cria comitês organizados, então, por dedução óbvia, esses comitês, juntas ou conselhos são apenas representatividades de A.A., não a sua essência. Eles são ferramentas úteis, que devem ser combinadas ao propósito primordial da Irmandade. Quando essa distinção se perde entre a essência e a aparência, corremos o risco de supervalorizar o Serviço e negligenciar os grupos, invertendo a lógica que sustenta nossa tradição.
O Desafio Cultural no Brasil
No contexto brasileiro, essa inversão parece estar bastante enraizada. Muitos membros acabam vendo o Serviço como um fim em si mesmo, buscando status, reconhecimento ou poder dentro das estruturas organizadas. Esse comportamento contraria os princípios de coperatividade, igualdade e o serviço ao desgraçad@ que ignora o seu alcolismo e a solução de A.A. Para reverter essa tendência, precisamos reforçar a importância dos grupos e lembrar que o Serviço existe apenas para apoiá-los, nunca para substituí-los.
Conclusão
A essência de Alcoólicos Anônimos está nos grupos, onde a ajuda mútua e o compartilhamento acontecem. O Serviço organizado é apenas uma aparência, uma representatividade criada para facilitar o trabalho dos grupos. Quando entendemos essa distinção, podemos evitar a supervalorização do Serviço e garantir que A.A. continue cumprindo seu propósito primordial: ajudar alcoólico que ainda sofre a encontrar a sobriedade. Afinal, como diz a Nona Tradição, A.A. nunca deve ser organizado — mas pode (e deve) ser servido.