Somos todos a Quinta Tradição em Alcoólicos Anônimos
Somente com uma compreensão vigorosa em razão da lógica de
nossos princípios, poderemos extrair um melhor entendimento na construção de
nossos destinos como sociedade e como indivíduos superando os insistentes
atavismos tão nocivos para o alcance de nosso único objetivo: “cada grupo é animado de um único propósito primordial ─ o de transmitir
sua mensagem ao alcoólico que ainda sofre”.
Vamos partir do pressuposto que tudo se inicia no grupo. Tudo!
O tradicional em nossa estrutura é parte espiritual que individualizada nos
grupos, tem responsabilidade fim ─ ANIMAR-SE na TRANSMISSÃO de SUA mensagem ao
alcoólico que ainda sofre.
Então, confirmamos, a única autoridade na transmissão da
mensagem de Alcoólicos Anônimos são os grupos. Essa prerrogativa só cabe a
eles, quero dizer, ao tradicional. Lembre-se em ter essa observação muito clara
em nossas mentes para prosseguirmos com a leitura e sua conclusão.
ÂNIMO
Animar-se seria o mesmo que estar motivado e consciente do
seu papel e responsabilidade em sua comunidade. Se cultivarmos essa prioridade
tão explicita em nossos grupos, impregnando seus membros e o ambiente com esta
decisão, a intenção que os conduzirá de seus lares aos seus respectivos grupos,
para além do encontro fraternal com companheiros de jornada, nada tão legítimo,
seria o movimento em proporcionar e facilitar a construção e a permanência de
um Comitê Trabalhando com Outros, vivo, em seus espaços. Tal movimento deve ter
a maior relevância nos grupos. Estar sempre em primeiro plano.
Mas não! Isso não ocorre invariavelmente.
Dessa maneira poderíamos, eventualmente, nos dar até ao luxo,
nesses mesmos espaços, de ceder lugar ao comportamento de Club, com o
famigerado bolo e guaraná. Só para quebrar a rotina, sem prejuízos ou desvios
de nosso propósito único e primordial. Estaríamos em dia com os nossos deveres
e por isso tranquilos.
Isso se deve, a meu ver, pela falta de esforços ─ não digo
rigor ─ individuais e coletivos no tratamento de nossas experiências legadas em
nossos livros fundamentais. Por que não o rigor? O rigor em nosso caso nos mataria! Mesmo porque, nossas tradições
nos advertem que não devemos exigir nada de quem quer que seja.
Somos plenos no exercício da liberdade e responsáveis pelas
consequências da mesma. É uma questão de justiça! Aprendemos esta lição desde
do primeiro dia que aqui chegamos. Existe uma lógica por trás desta experiência
universal fundamentada em nosso meio ─ um valor ─. Esse princípio é norteador
em quaisquer circunstâncias ou contexto dentro do A.A. e, mesmo fora, em nossas
vidas pessoais. O CTO e suas comissões se submetem a essa mesma lógica Divina.
Talvez aqui se justifique o rigor quando absorvemos em nossos corações e mentes
o compromisso com outro. Uma revolução!
Tratarei deste assunto com mais propriedade e profundidade
num próximo artigo acerca da nossa 1ª tradição.
Vamos continuar nossa conversa com outra categoria que quando
corroborado com a categoria anterior, fecha a questão.
TRANSMISSÃO
A categoria transmissão: atribuir algo a outrem; ato ou
efeito de transmitir; contágio: capaz de contagiar, de influir no
comportamento de alguém; que se espalha de uma pessoa para outra, de um lugar
para outro; inoculação: [Figurado] transmissão, propagação de ideias, opiniões,
doutrinas, ideologias...
O processo de recuperação individual e até mesmo coletivo,
se dá em longo prazo, amorosamente, pacientemente e com firmeza nas ações. Ora,
os 12 passos, nada mais é do que um plano de ação, o nosso método de
recuperação do alcoolismo contido no programa de A.A..
Uma atmosfera propícia, isto é, protetora, encorajadora e
fraterna, deve reinar em nossos grupos a todo custo e é nesse sentido que há
inúmeras recomendações incentivando o silenciar de nossas personalidades em
benefício do coletivo. Não quer dizer que não haja divergências, discussões e
desacordos. Não é isso! Sabemos que na nossa diversidade reside uma grande
força. Contudo, sabemos que os temas particulares ou domésticos não cabem
nesses espaços, ou pelo menos, não deveriam ser estimulados por uma maioria de
membros recuperados e maduros. São conteúdos altamente explosivos.
“Lembre-se do Irlandês rubicundo ─ aquele das bochechas
coradas ─ e a noção de sobriedade vendida por seu padrinho”.
Já as divergências e os debates, até mesmo acalorados, em
torno da nossa 5ª tradição, são bem-vindos e positivamente apreciados. É a
natureza de um grupo de Alcoólicos Anônimos num movimento genuíno e próprio. Na
razão de nossa existência haverá sempre o bom combate objetivando o seu
aperfeiçoamento na direção do alcoólico que ainda sofre do alcoolismo. Tudo
estará bem e garantido por nosso bom Deus.
Bem, é nesse sentido que a transmissão de nossos princípios
e experiências se faz ao enfermiço candidato recuperar-se do alcoolismo e a se
tornar um membro consciencioso de suas responsabilidades, ativo na manutenção
de nossa chama. Tudo acontece por contágio, por aproximação, persuasão pelo
fazer, não mais pela efêmera fala em cabeceira de mesa enaltecendo suas credenciais
de tempo e de encargo nos serviços de AA. Não violentamos ninguém impondo
nossos valores ou vontades. Expectativas subjetivas de tempo não cabem no
processo. O tempo agora é de DEUS.
Cinco, dez anos, e continuaremos sendo recém-chegados. Leva
tempo para dar o primeiro passo por inteiro. Então, se apresse, porque caso
contrário suas soluções aprendidas no mundo que nos corrompem diariamente naquilo
que possuímos de mais humano, nos tornando doentes e apodrecidos, tenderemos
importar para o nosso Eldorado acreditando ter inventado a roda, mas na verdade
estaremos nos colocando em risco e a alguns outros. Não somos uma corporação,
somos a utopia. Não cumprimos metas, não temos um checklist para preencher,
regras nem pensar, padrões no agir, pensar e falar, nunca! Não somos
profissionais e sim servidores, recuperados no sentido mais profundo,
responsáveis e de confiança, contribuindo com aquilo que há de melhor e
possível. Sem medalhas ou troféus de chocolate.
Como já havia nos dito o nosso querido Co-fundador Bill W., “tudo em A.A. já foi tentado nos seus
primórdios”. Em verdade, a partir de uma compreensão profunda de nossos
princípios, deveríamos exportar nossa maneira de viver e existir para o resto
do mundo, e não o contrário. Mas esse, Graças a Deus, não é o nosso papel. Importante
nos atermos somente às nossas chinelas.
PROPRIEDADE
A categoria seguinte trata-se do pronome possesivo “sua” referindo-se a cada grupo, a posse de uma mensagem própria na sua forma.
─ Como assim?
─ Vou explicar:
Outra premissa prevista e garantida em nossas tradições,
nesse caso a 4ª tradição, é o direito de cada grupo se manifestar como
individualidade de um todo. Portanto, sendo assim, reconhecido como uma
entidade espiritual que possui seus próprios recursos morais, possíveis e
cabíveis, para a transmissão da “sua” mensagem. Ou seja, cada grupo é um
conjunto vivo, orgânico, dinâmico, próprio em particularidades, que trabalha na
atração do enfermiço de sua comunidade. Nunca falaremos em uniformidade, mas
sempre em unidade de diferenças e semelhanças.
É fácil concluir que os grupos não podem ser iguais na sua
forma. Os componentes que formam o seu conjunto, condicionalmente, estão
atrelados aos aspectos socioculturais e econômicos da sua região e classe.
Contudo, não são esses fatores determinantes, caso haja indivíduos que não
atendam as mesmas condições da maioria. Não fracassarão em sua reabilitação só porque
compartilham do mesmo espaço aparentemente estranho a eles. O problema aqui é o
favorecimento através da identificação. Quanto mais pleno for esse quesito
preenchido, ou seja, na maioria dos seus aspectos, o resultado será melhor. Há
de convir que o conjunto dos elementos constitutivos num grupo de Ipanema não é o
mesmo em Cascadura. O mesmo aconteceria a um companheiro esquimó, comedor de
foca, lá no sertão da Bahia, por mais genial e acolhedor que seja o povo
daquele estado.
A sensação de pertencimento é um valor importantíssimo e
facilitador na chegada de qualquer alcoólico num grupo de AA. Esse acolhimento
diário é a substância que só o grupo pode
proporcionar. Essa sua essência, que não é a forma, é parte da sua natureza e a
encontraremos em todos nossos grupos independentemente da sua localização. A
identificação com o seu novo grupo é um fator fundamental para promover esse
sujeito, adoecido e humilhado, a reiterar o seu compromisso consigo e o retorno
no próximo dia a mais uma reunião.
Percebam a lógica em relação a localização de um grupo e o
seu trabalho de relações públicas. São estabelecidos limites dentro de um
perímetro para sua atuação, determinando sua comunidade como a única base na
atração dos prováveis membros, recomendando a não ultrapassar seus limites fronteiriços
com outra região. Esse conhecimento vai se consolidando tacitamente através das
experiências dos anos e sendo incorporado a nossa estrutura como virtude ou
recomendação. Temos que respeitar os esforços desses homens e mulheres que nos
antecederam, não é mesmo?
São esses, em parte, os motivos não tão óbvios, que
encarregam somente os grupos da responsabilidade de transmitir a recuperação do
alcoolismo aos potenciais membros de nossa sociedade.
ESTRUTURA PARALELA
Dentro da estrutura de AA, todo o Serviço, em nosso organismo,
subsidia a partir do seu descolamento daquilo que é essencial, os grupos, a
formação do conjunto representativo ─ áreas e distritos ─ minimamente organizados e hierarquizados, e o Legal, até chegar na Conferência. Toda essa
nossa engenharia da estrutura de serviços formam uma unidade que atende, em
última análise, uma única premissa: a da comunicação entre grupos do mundo
inteiro. O máximo que essa estrutura paralela se permite, é “levar” a mensagem
a todos os cantos mundo. Isso é muito diferente que transmiti-la.
Fique bem claro que os Distritos, as Áreas, os ESLs, a
JUNAAB, o Quartel General, em NY, até mesmo, os Comitês de CTO dos Grupos, não
tem condições e nem recursos espirituais para efetivar essa transmissão. No máximo, prepararam ou lançam as iscas. É extremamente irresponsável estimular
nesses quadros, a presença de recém-chegados sob alegação de qualquer natureza.
Acreditamos que com o passar do tempo, nossa sociedade amadurecida, consolidou por meio das experiências, sua vocação inata. Inicialmente tímida, até mesmo inconsciente, para mais adiante ser consagrada em nossas tradições no seu objetivo único e primeiro: a 5ª Tradição!
Ficando claro que todo o movimento de Alcoólicos Anônimos objetiva o externo, o lado de fora! Enfim, toda a sociedade!
Esse é o trabalho: alcançar o alcoólico que ainda sofre! Reiterando uma vigorosa premissa encontrada em nosso método de recuperação - nossos 12 passos. É o coroamento do nosso método!
A solução de nossos terríveis dilemas e angústias estão no outro: em nossos espelhos que nos tornam cada vez mais humanos...
O verdadeiro Amor só se realiza quando caminhamos em direção ao Outro.
Então, sirva!
É a nossa conclusão!
Aprendi uma dura lição nessa minha curta jornada em
Alcoólicos Anônimos: a certeza de ser aquilo que devo ser, e não mais,
aquilo que eu desejo ser.
Texto brilhante, elucidativo e completo. A imagem ilustrativa já nos traz a ideia do belíssimo princípio anônimo da igualdade, que amansa nossas personalidades no tocante aos galardões de tempo de sobriedade, encargos, serviços e estruturas, que muitas vezes acabam distorcendo nosso genuíno propósito. O Grupo de Alcoólicos Anônimos, o local mais sublime de toda estrutura de nossa irmandade, tem vida, linguagem, consciência e características próprias amparadas pelo princípio espiritual contido na Quarta Tradição. A proposta do "Despertar da Responsabilidade" e da "Boa Vontade" para o desenvolvimento do CTO dentro de cada grupo, e que funcione individualmente de acordo com a consciência esclarecida de cada grupo é maravilhosa. Parabéns pelo artigo!! É fundamental que esse assunto seja debatido nas reuniões de serviço dos grupos para que possamos nos aproximar da melhor forma possível do real motivo de nossa existência: a Quinta Tradição de Alcoólicos Anônimos!
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